quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Solidão

É nos momentos de solidão que os pensamentos mais variados nos visitam. Pedro, apóstolo de Jesus, preso
atrás das grades, cantava louvores a Deus e orava. Não se deixou abater pela solidão.
John Bunyam foi preso por ser cristão. Ficou na prisão por onze anos, onde fazia cadarços para sapatos para ajudar à família. Na solidão foi visitado pela inspiração, que o convenceu a escrever o livro intitulado "O Peregrino", onde ele conta a história dos sofrimentos de um personagem chamado de Cristão; ao que me parece, escrevia sua própria biografia.
A solidão não deve ser muito longa, mais os períodos de ócio devem ser muito bem aproveitados para reflexão. Refletir sobre situações da vida, temas que nos desafiam, assuntos palpitantes ou mesmo relembrar um fato interessante, um momento que tenha sido marcante. Lembrar do primeiro amor, de palavras que nos foram ditas carinhosamente, de juras que talvez não tenham se cumprido, dos nossos filhos pequenos...
Os momentos de solidão se tornam ricos quando bem aproveitados. Cada situação refletida deve gerar em nós um novo aprendizado.

O Ocaso Por Duas Andorinhas

Os idosos  se acham no ocaso da vida. A velhice é o tempo do por do sol.
Quando a noite vem chegando, o manto negro começa a se estender sobre a terra. A brisa da "boca da noite" geralmente é mais fria. As vezes,  sopra um vento sudoeste fazendo uivar os bambus e batendo as folhas dos coqueiros, o que é um barulho meio assustador. Tudo fica escuro.
Nas cidades, as luzes tentam quebrar a densa escuridão, mas, na roça, apenas os pirilampos piscando aqi e ali, dá-nos um certo medo. O negrume da noite amedronta.! Aves agoureiras passam voando rasteiro e produzem um som assustador com o farfalhar de suas asas.
_É assim o ocaso da vida?
_Pode ser. Mas o "vô" nos contou que tinha trocado o ocaso dele por duas andorinhas.
De repente, o "vô" preferiu no entardecer, fazer a troca. Ali mesmo, no telhado da varanda da casa grande, acomodavam-se inúmeras andorinhas para dormir.
Ele escolheu duas, um casal e trocou o seu por do sol por elas que já estavam chilreando, procurando o ninho no meio das telhas. E o "vô" observava. Ao olhar para cima, viu que , embora a noite chegasse com seu negro manto, não era noite de lua e o céu estava cheio de estrelas. Tantas, tantas, como ele nuca havia reparado antes. Viu estrelas azuis, amarelas e vermelhas. De repente, uma delas, como que se desprendesse, " zuuuup"! desapareceu! Ele ficou cada vez mais encantado. De vez em quando, ouvia o cochicho das andorinhas no ninho. Elas estavam ali! O "vô",  encantado, olhava as estrelas cintilando no céu, ouvia o vento que sacudia as folhas das árvores, fazendo com que elas aplaudissem o lindo espetáculo do céu tão estrelado!
Deitado na rede, entre um cochilo e outro, o "vô" viu o dia começar a nascer e logo ouviu o reboliço de suas andorinhas, dando boas vindas ao sol que despontava cheio de alegria.. Daí a pouco , todas as aves cantavam celebrando a vida! O "vô" não cabia em si de felicidade pela boa troca que havia feito.m Trocou o ocaso pela VIDA e, cada dia era uma nova festa que ele viu se repetir por muitos anos ainda, depois que se esqueceu do manto da noite.  Quando ela ( a noite), chegava, ele acendia um luzeiro no quintal e espantava as trevas para esperar feliz no novo dia, o despontar do sol,ouvindo o canto e admirando o vôo das andorinhas, que toda tarde, vinham fazer-lhe companhia. Até o dia em que ele dormiu para sempre, e então elas mudaram seu ninho de lugar.

                             

terça-feira, 2 de outubro de 2012

NINHO

Ninho me lembra  passarinhos, aconchego, intimidade, acasalamento.
Os pássaros fazem seus ninhos. Os homens, também.
Há um tempo em que os jovens se aproximam, apaixonam-se e buscam um relacionamento mais íntimo. Pelo menos, no meu tempo, foi assim. E ai a gente construiu um ninho.. Nossa casinha era um ninho pequeno, novinho, aconchegante., com conforto e de bom gosto. Não faltava nada. Enquanto ele fazia a obra, como o "João de Barro", fazia os alicerces, as colunas, os muros de proteção, eu cuidava de enfeitar, bordar, preparar o enxoval que iria compor, embelezar, tornar fofo e quentinho aquele lugar preparado  com amor e para o amor. Havia sonhos,,, Era muito diferente... Talvez hoje seja melhor, não sei.
Eu achava linda a espera e a preparação. Aquela expectativa era muito forte, e nos fazia ter pressa de preparar tudo. Cortinas, almofadas, travesseiros, colchas e lençóis, camisolas e toalhas, tudo com o maior carinho...   Finalmente, depois da bênção, o ninho foi habitado e estava muito agradável para receber os jovens apaixonados. Das delícias desse amor, amor no trato, na mesa da refeição preparada com tanto carinho, nas carícias , nos afagos, nos sonhos a dois, um ano depois chegava o primeiro fruto desse grande amor. Uma  linda menininha e, a seguir, mais três meninos que encheram o ninho de alegria, de trabalho, de preocupação e de responsabilidade. Os anos passaram. O ninho já era apertado. Nova casa bem grande. Outra mais conveniente na localização, perto da escola. Ninho cheio, movimentado, barulhento...
O tempo passou... Os filhotes cresceram e voaram. Foram construir seus ninhos também.


Hoje, meu ninho está quase vazio. Vazio de pessoas. Daquelas pessoas,.... Mas, quando eles chegam, agora acompanhados de esposa e filhotes, minha filha, genro, meus netos , meus rapazes preciosos, o ninho fica de novo em festa! Ouvem-se cânticos, notas musicais, louvores, gritos de alegria, risos de criança e muita, muita alegria.!

 Ontem foi um desses dias. Almoçamos juntos, tiramos fotos, cantamos , rimos, agradecemos a Deus e vibramos ao som de "Mamãe, Mamãe, Mamãe, pelo Andinho, o filho do meio. Homenagens, presentes , festa!
Quando eles vão embora, a casa fica vazia,mas isso não me traz tristeza nem depressão. Vou, carinhosamente, e sem pressa colocando nos lugares as coisas que foram retiradas ou espalhadas pelo nosso pequeno e precioso Davi (de apenas dois aninhos)


recolocando as almofadas e afofando a cama que fica de novo arrumadinha por muito tempo... Confesso que gosto de ver a casa arrumadinha, mas não me prendo a isso. Aquela baguncinha que fica  quando estamos todos juntos é maravilhosa! Não fico presa à casa. Saio para minhas atividades, sou ativa, visito pessoas carentes , idosos, mas ao chegar de volta ao lar , sinto-me feliz.
Agradeço a Deus pela minha casa que continua sendo o meu ninho Não é um ninho vazio. Hoje, o que preenche minha vida são os livros, os textos que escrevo, minha meditação, minhas conversas com o Pai Celestial,  por isso mesmo não me sobra tempo para ter solidão. Meu ninho tem sempre alegria, esperanças, músicas, louvores a Deus. Recebo o carinho dos netos que moram em cima, constantemente.. Da filha, do genro e do meu Xan. Não me sinto só , nem lamento o ninho vazio...           
  Maio de 2012

Envelhecer é Uma Arte

 1º de outubro de 2012    (Dia do Idoso)                                              
      
Eu sei que a herança genética é fator importantíssimo em toda nossa vida, influenciando até mesmo, no tempo do envelhecer, embora esses fatores não sejam únicos e decisivos.
 Hoje, contamos com os avanços tecnológicos, trazendo recursos que também podem influenciar o envelhecimento com melhor qualidade de vida, beleza e estética, mais ou menos preservadas. Tudo isso é importante, não podemos negar. 
Considero que a saúde física e mental, os recursos financeiros que muito ajudam, uma família ajustada, são condições prioritárias para uma velhice equilibrada e feliz. No entanto, foi o idoso mesmo, quem durante a sua vida, traçou o perfil de sua velhice.
 Se durante a caminhada, o homem ou a mulher soube administrar suas finanças, suas crises, suas dificuldades e suas vitórias, estes , certamente, entrarão na terceira idade, nesse mesmo compasso.
 Não nascemos sabendo. Mas o dia a dia, as experiências passadas, a observação do que acontece ao nosso redor, são dados que vamos somando ao nosso conhecimento, sempre.
 Daí dizer-se que o idoso é sábio. Sim, a soma dos conhecimentos ao longo do tempo, nos acrescenta essa qualidade.


O idoso deve também ler bastante: jornais, livros, revistas. Sempre acharemos algo novo e proveitoso que venha acrescentar ou confirmar nossas idéias.
Para viver a velhice com equilíbrio, o ancião deverá lutar para não perder sua autonomia, não distribuir o que possui antes da hora necessária. Já ouvi muitas vezes o dito popular: "Quem dá o que tem, a pedir vem".
Não deixe de administrar os seus bens, enquanto puder.
 Cuide de sua saúde, use os seus recursos, antes de tudo em seu próprio favor, com sua alimentação adequada e seus remédios .Não podemos nos esquecer dos cuidados com os dentes, com os cabelos... 
 Passeie, procure atividades físicas e de lazer, para manter uma boa qualidade de vida.

 Tenha amigos, tenha vida social e religiosa e, não deixe, se possível de ter um bom relacionamento com os filhos e familiares. Os filhos devem observar como você se cuida e como gostará de ser cuidado sempre. Alguns de nós, certamente, experimentaremos dias em que estaremos, então, dependentes deles ou de algum cuidador. Que os filhos percebam a sua maneira de administrar sua vida e possam ter a dedicação de manter esses cuidados até o fim. Isso é o mínimo que deverão fazer por aqueles que os geraram e os educaram, preparando-os para a vida. Que eles reconheçam que os êxitos e as vitórias que estão experimentando hoje, é fruto da herança genética que receberam dos pais, além do esforço, da dedicação, da doação em amor, do exemplo e da educação que lhes deram , certamente tendo sido uma "mãe má", que soube lhes impor limites, ensinando deveres e direitos e, ainda, e principalmente, a conhecer a Deus, o Pai por excelência de quem nos vem toda força positiva para caminhar na Luz. Que os filhos possam perceber isso, procurando também, ser exemplo para seus filhos, de modo que os valores da educação, da família e da fé sejam preservados

Escreva , meu irmão, meu amigo, com muito cuidado, a sua história de vida, mas não deixe  ninguém segurar a caneta. Escreva você mesmo, ainda que as mãos já estejam trêmulas.
Reflita sobre isso.
                                                      

O Lugar dos Sonhos

Bem lá em cima, no alto do morro, passava a cerca que dividia o sítio, que não era muito grande. Uma boa parte da baixada por onde corria o riacho, mais ou menos um terço da propriedade, era ocupado pelo pasto verde, bem cuidado, em que pastam tranquilos  três belos cavalos. A parte restante, era plantada com árvores frutíferas. Bananeiras , laranjeiras, canas caianas, e o alto pé de cambucá. Havia ainda bastante aipim, e milho era plantado para servir de ração para os animais. Aquele topo do monte era um ponto estratégico. Ali se sentava, quase todos os dias, a moreninha do sítio. Era pequena , do tipo mignon, não crescera muito, já tinha 12 anos, já era uma mocinha.


Muito solitária, não tendo com quem brincar, subia o monte e lá se sentia livre, para jogar com os sonhos e as fantasias que construía  Levava os livros pois ali era o lugar ideal para decorar verbos, estudando-os em todos os tempos, modos e pessoas. Bem alto , recitava as capitais dos estados brasileiros, desde o Amapá ao Chui.  E o vento que levava suas palavras, era responsável pela fixação que era realizada através do eco, que repetia suas palavras. Era um processo natural, interessante e agradável. De lá de cima, ela conseguia ver trechos da estrada que limitava o sítio de um e de outro lado. Essas estradas  encontravam-se adiante, no final da baixada e eram cercadas de bambu gigante, o que dava um aspecto sombrio à entrada do sítio.
Como nascera ali, ela conhecia quase todas as pessoas que passavam nas estradas, mesmo à distância. Os rapazinhos passavam de bicicleta ou a cavalo. Cada bicicleta era caracterizada pelo ruído de sua campainha  e os cavaleiros pelo trotar de seus cavalos ou pela canção que assobiavam pelo caminho.

Aquele era o seu ateliê de sonhos- alegres, coloridos, felizes ou cheios de esperança ou de dúvidas e incertezas. Espinhos pontiagudos , tirados com muito cuidado , eram usados como lápis para escrever ou gravar, nas folhas verdes e espessas de uma planta comum, comestível, a mesma de onde tirava os espinhos,chamada de "Orai pro nobis", cujas folhas são tenras, gelatinosas, sem nervuras, parecendo próprias para gravar o nome do príncipe sonhado...

Sempre, lá estava ela, á sombra de uma grande carrapeteira, que a protegia dos raios fortes do sol. Sob um chapéu cor dr palha, seus cabelos, escuros e levemente cacheados, deixavam à mostra seu rostinho mais  europeu do que mestiço. Seus olhos, quase negros, estavam sempre atentos aos visitantes constantes: passarinhos que pousavam bem pertinho, e pareciam entender seus pensamentos. As borboletas coloridas, grandes e pequenas, chegavam a assustá-la, pousando no seu chapéu .. Lagartixas que passavam correndo, espantavam a "fadinha do monte". Quando ouvia a campainha da bicicleta que seu coração já identificava, colocava-se de pé, jogava as cartinhas de folhas verdes, atirava beijos que jamais alcançaram o pretendente. Ele nuca soube que ela estava ali....


Tão tímida, tão pequena, seu amor morava no monte e, só ali ele se revelava como se o bem-te-vi que a ouvia, pudesse levar recados, e o beija-flor,  quando pairava no ar, tão perto dela, quisesse  lhe entregar uma mensagem envolta em poesia, embalada na paina que voava no ar, tão leve e macia...
Quando a tarde chegava, passavam voando, aves que pareciam patos  selvagens. Ela percebia que era hora de voltar para casa. O sol já  começava a descambar no horizonte e a brisa começava a refrescar...
Ela se levantava, sacudia o vestido rodado, ajeitava o chapéu e pegava os pertences para o retorno. Por ali ficavam inúmeros bilhetes, cartinhas e mensagens que não foram enviados, a não ser pelo pensamento. Lindos recadinhos de amor, carinhos tecidos em sonho, como se fosse um grande tapete, com cores de esperança e de alegria. Seus sonhos ficavam ali. Era sua oficina, na qual tecia, a cada dia novas ilusões.

Voltava para casa para dormir e sonhar. Sonhava com formigas que passavam em correição, carregando a carruagem que trazia o seu príncipe encantado! Era tão pequenino. Era mesmo um sonho. Sonho de menina.
No dia seguinte, quando voltava da escola, depois de almoçar e fazer os deveres, lá ia ela, em busca do seu camarim,  em que todos os personagens de suas histórias, todos, passavam pelos caminhos coloridos da imaginação. A menina já teria escrito um livro, se aquelas folhas fossem contadas e registradas. No entanto, no dia seguinte, estavam todas murchas, quase secas, o que despertava em seu coração novas idéias, novas imagens para outras declarações, cada vez mais lindas.

Então, cuidadosamente, para não se ferir nos espinhos, retirava algumas lindas flores do "Orai pro nobis", que eram doces como verdadeiras rosas, e com elas enfeitava seu chapéu, como se se preparasse para o encontro imaginário do entardecer, quando as formiguinhas e os colibris ajudariam a segurar o longo véu que a enfeitaria para ir ao encontro de seus pensamentos. Estava tão envolvida em seus devaneios, entre fadas e madrinhas, que não percebeu a aproximação de seu pai que, ocasionalmente , passara por ali, reparando as cercas.

Ah! Que susto! Toda sua corte se desfez como uma bolha de sabão e se viu acordar do encantamento a moreninha do sítio que, meio sem graça, aproveitou a companhia para o retorno, ansiosa que chegasse o dia seguinte para continuar a tecer seu tapete colorido...