quarta-feira, 11 de março de 2015

Divagações

      Há momentos em que a vida se torna pesada, rotineira. O tempo é escasso para tantas atividades que se repetem, nos conduzindo ao cansaço.
      Acordei pela madrugada, sem sono. Saí então a "caminhar" ou a divagar. Sozinha, no escuro da noite, andei por ruas estranhas, onde um vento frio açoitava. Imediatamente , fugi para a praia, onde o vento era morno como eu precisava. Sentada na areia fria, podia contemplar as ondas calmas e mornas que chegavam quase aos meus pés. Aquele vai e vem constante, quase me deixava tonta, mas me embalava e me transportava para bem longe, onde o dia nascia,  mostrando entre as árvores o clarão do sol, que começava a iluminar-me a alma. O sol, cujos primeiros raios ainda relutavam para empurrar a escuridão da noite, estava começando a aparecer. A beleza do dia, no meio da noite,pintava o meu coração com cores de verão. Eu via os cabelos longos e cacheados da menina de seis anos, que o sol  filtrava e os tornava louros, quase dourados, embora fossem castanhos. Aquela era uma criança feliz. Vivia em contato com a natureza, experimentava a luz do sol em seus cachos encaracolados, batia os pezinhos  nas águas claras e rasas do riacho. Era uma criança feliz.
    O dia irrompia em meu coração, enquanto a noite continuava intensa na alma. Vi a adolescente sonhadora, de sonhos pequenos, mas cheios de esperança, de beleza, de maturidade e de cores, que passou ,rapidamente. Predominava, agora , a cor azul, o azul celeste e o branco das nuvens. Por detrás das nuvens , ainda que brancas, raios riscavam o céu, o que dava , além de medo, certo brilho encantador. Era um sonho? Não. Estava acordada. Apenas divagava, deixava a mente voar, cavalgar por sobre as montanhas  da vida, em cavalos alados, como nos sonhos dos poetas.
    Do alto, contemplava os vales , os Kenios, que a vida  apresentava, mas escolhia fugir deles. Não queria mais experimentá-los de novo. Já havia passado por lá. A vida,  não tão longa, já experimentara as depressões e o deserto.
   A idade madura chegou com força de plantas viçosas," cujos filhos são como plantas de oliveira  ao redor da mesa". Assim foram: ativos, fortes, lindos. Todos, seguindo o quebra-cabeças da vida, peças que se encaixaram ,em seu tempo, formando um painel, de rara beleza, bordado com romance e poesia. Para que a beleza fosse mais intensa, o pintor usou cores tão fortes, que a tela quase se rompeu. Tem sido maravilhoso, no desenrolar desse painel, contemplar o cuidado do Criador, para restaurar o dano. Uma vez, duas vezes, três, quatro, cinco vezes... Todos os personagens do quadro se levantam assustados e, correm para o pintor, como a requerer dEle o concerto daquele estrago . Ele não é culpado. Apenas permitiu a mistura das tintas. Passo a passo, Ele mesmo com seu cuidado e amor, vai ensinando a cada um que a Sua Vontade é soberana. Lenta e atentamente, todos tomam seus lugares no painel contínuo da vida ,que não para e, com esperança e fé aguardam o desfecho. As horas passam e o dia  de verdade está chegando. O sono também.
Vou descansar um pouco mais.

Tento Lembrar-me

Quero lembrar-me
com vaga saudade...
de um tempo distante,
era quase criança...

                              Havia um anjo que me esperava.
                               Eu  queria apenas, seu sorriso ver
                              como eu gostava, acho mesmo que amava
                             pois era tão puro o meu coração,
                             coração de menina, era quase infantil

Na incerteza, plantava rosas
e recolhia flores
Como rubra pétala imaginava os lábios
daquela boca, que nunca beijei

                                                  No rio que corre,
                                                   nas águas do rio,
                                                   o tempo passou , como desafio.
Hoje, tão longe,
o sonho escondido
parece estar vivo em meu coração

                           O destino voraz e sem piedade
                            afasta as pessoas.
                            Ainda é possível, um dia, revê-lo?
                            não é utopia, sonho, vaidade?
                            Transcende à verdade....

Que a idade não seja impedimento
para que um dia possamos nos ver,
e conferir os estragos do tempo
ou a beleza de um amor inocente?

O tempo não pode impedir
que uma saudade ainda esteja viva,
um pétala rubra, caída
meio murcha, mas ainda viva,
nos lábios que podem ainda
sentir  o néctar da flor.
Nada é impossível se o coração quer.
Redescobrir o amor