Há momentos em que a vida se torna pesada, rotineira. O tempo é escasso para tantas atividades que se repetem, nos conduzindo ao cansaço.
Acordei pela madrugada, sem sono. Saí então a "caminhar" ou a divagar. Sozinha, no escuro da noite, andei por ruas estranhas, onde um vento frio açoitava. Imediatamente , fugi para a praia, onde o vento era morno como eu precisava. Sentada na areia fria, podia contemplar as ondas calmas e mornas que chegavam quase aos meus pés. Aquele vai e vem constante, quase me deixava tonta, mas me embalava e me transportava para bem longe, onde o dia nascia, mostrando entre as árvores o clarão do sol, que começava a iluminar-me a alma. O sol, cujos primeiros raios ainda relutavam para empurrar a escuridão da noite, estava começando a aparecer. A beleza do dia, no meio da noite,pintava o meu coração com cores de verão. Eu via os cabelos longos e cacheados da menina de seis anos, que o sol filtrava e os tornava louros, quase dourados, embora fossem castanhos. Aquela era uma criança feliz. Vivia em contato com a natureza, experimentava a luz do sol em seus cachos encaracolados, batia os pezinhos nas águas claras e rasas do riacho. Era uma criança feliz.
O dia irrompia em meu coração, enquanto a noite continuava intensa na alma. Vi a adolescente sonhadora, de sonhos pequenos, mas cheios de esperança, de beleza, de maturidade e de cores, que passou ,rapidamente. Predominava, agora , a cor azul, o azul celeste e o branco das nuvens. Por detrás das nuvens , ainda que brancas, raios riscavam o céu, o que dava , além de medo, certo brilho encantador. Era um sonho? Não. Estava acordada. Apenas divagava, deixava a mente voar, cavalgar por sobre as montanhas da vida, em cavalos alados, como nos sonhos dos poetas.
Do alto, contemplava os vales , os Kenios, que a vida apresentava, mas escolhia fugir deles. Não queria mais experimentá-los de novo. Já havia passado por lá. A vida, não tão longa, já experimentara as depressões e o deserto.
A idade madura chegou com força de plantas viçosas," cujos filhos são como plantas de oliveira ao redor da mesa". Assim foram: ativos, fortes, lindos. Todos, seguindo o quebra-cabeças da vida, peças que se encaixaram ,em seu tempo, formando um painel, de rara beleza, bordado com romance e poesia. Para que a beleza fosse mais intensa, o pintor usou cores tão fortes, que a tela quase se rompeu. Tem sido maravilhoso, no desenrolar desse painel, contemplar o cuidado do Criador, para restaurar o dano. Uma vez, duas vezes, três, quatro, cinco vezes... Todos os personagens do quadro se levantam assustados e, correm para o pintor, como a requerer dEle o concerto daquele estrago . Ele não é culpado. Apenas permitiu a mistura das tintas. Passo a passo, Ele mesmo com seu cuidado e amor, vai ensinando a cada um que a Sua Vontade é soberana. Lenta e atentamente, todos tomam seus lugares no painel contínuo da vida ,que não para e, com esperança e fé aguardam o desfecho. As horas passam e o dia de verdade está chegando. O sono também.
Vou descansar um pouco mais.
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