Era bem pequena e minha irmã fazia, com um pedaço de papel amarelo, um catavento para mim.
Ela prendia, com alfinete de costura, a folha dobrada num pedacinho de bambu. E eu corria ladeira abaixo, pelo gramado, desde a nossa casa até a cancela que ficava lá na entrada do sítio, debaixo de uma grande carrapeteira.
A minha alegria era muito grande quando o catavento conseguia girar.
Na maioria das vezes, ele enguiçava no caminho. O vento dobrava o papel de mau jeito e tudo perdia a graça. Outras vezes, um tombo na grama, um joelho ralado... A graça estava na velocidade do catavento.
Aos sete ou oito anos , na escola, a professora enfeitava a sala com bandeirolas e dobraduras coloridas. Entre elas, muitos cataventos rodavam naqueles dias. Reparando as praças da cidadezinha do interior onde vivia, vi muitos cataventos ou ventoinhas, alguns já desbotados pelo tempo, colocados no alto dos telhados das casas. Eles serviam para indicar a direção dos ventos. Uns já descoloridos, outros ainda com suas cores vivas,com seu giro alegre, agitavam suavemente a minha mocidade.
O tempo foi passando.
Nos caminhos da vida, pude ver muitos cataventos enfileirados.
Foi quando conheci o aproveitamento da energia fornecida pelo vento. A energia eólica, hoje utilizada em vários Estados do Brasil. Esses já eram tempos de uma vida madura.
Hoje, na idade da razão, continuo gostando de admirar os cataventos.
Comprei um , bem bonito, de cores bem vivas e luminosas e mandei afixá-lo no gramado do jardim de minha irmã, que mora no interior(com o consentimento dela, é claro).
Gosto muito de sentar-me na varanda, em frente ao jardim, contemplar as icsórias floridas, ver o verde da grama, agora tendo a monotonia quebrada pelo movimento ativo e luminoso do meu atual catavento.
Fico a refletir na rapidez da vida que, em certos momentos, passou , quase voando, como as pás rápidas da ventoinha, agitadas por um vento mais forte. Olho-as em velocidade e percebo que união das cores, ou a mistura delas, faz-me vê-lo todo branco.
Assim como a vida, que já experimentou tantas cores e tantos movimentos, parece que vai lentamente transformando seu arco-iris em um pálido acinzentado, até embranquecer. Agradeço a Deus porque compreendo o envelhecer como a última atividade de esforço do vento, agitando vigorosamente as pás da vida, fazendo-as empalidecer gradativamente. Ainda acho belo. Ainda consigo me alegrar e quero, enquanto puder, sentir a brisa da tarde que faz cair as folhas da mangueira; ver o meu catavento girar, branquinho, como uma pomba, que não levanta voo, mas continua batendo as asas, pairando no ar. Minha irmã, com oitenta e seis anos, talvez já não se importe com as cores, nem com a vibração, nem com a monotonia. Para ela, o catavento parou de girar. Enquanto isso, peço a Deus que eu possa continuar vendo o brilho e as cores, quando não houver vento, mas que, à menor brisa, eu possa com ele sentir meu coração bater bem forte, ainda me lembrando das fases de cores alegres. Quero continuar apreciando o meu catavento , enquanto viver.
Nenhum comentário:
Postar um comentário